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Prefeito de Bonfinópolis relata pedido de propina de R$ 15 mil de pastor com influência no MEC

O prefeito Kelton Pinheiro (Cidadania), da cidade goiana de Bonfinópolis, relatou que o pastor Arilton Moura pediu R$ 15 mil de propina para enviar verbas do Ministério da Educação para o município.

Arilton é um dos pastores com trânsito livre no MEC e relação próxima com o ministro Milton Ribeiro. Nesta semana, reportagem do jornal “Folha de S. Paulo” mostrou áudio de Ribeiro, em reunião com prefeitos, dizendo que repassa verbas do MEC a municípios indicados pelos pastores a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

Na esteira da revelação do áudio, começaram a surgir denúncias de que os pastores pediram propina para liberar as verbas. Além de Arilton, outro pastor citado por Milton nos áudio é Gilmar Santos.

O jornal “O Globo” publicou a denúncia do prefeito Kelton Pinheiro. Depois, a TV Globo também conseguiu falar com ele.

Ele afirmou que, por intermédio do pastor Gilmar, conseguiu ser recebido pelo ministro da Educação numa reunião com vários prefeitos.

Depois da reunião, Kelton disse que os prefeitos foram almoçar e que, nesse momento, o pastor Arilton, que também estava no encontro, fez o pedido de propina.

Segundo o prefeito, o pastor disse: “‘Papo reto aqui. Eu tenho recurso para conseguir com você lá no ministério, mas eu preciso que você coloque na minha conta hoje R$ 15 mil. É hoje. E porque você está com o pastor Gilmar aqui, senão, pros outros, foi até mais’. Achei muito estranho, não tinha interesse”, contou Kelton.

O prefeito relatou ainda que precisa muito de uma escola nova no seu município, mas não quis pagar a propina.

“Olha, eu precisava muito da construção de uma escola nova. Tem uma escola lá que é de placas de muro, escola antiga, que a gente precisava substituir lá no município. Então ele disse: ‘Olha, tudo bem, eu consigo isso para você, mas eu quero que você me dê hoje R$ 15 mil aqui na minha mão. Hoje, uma transferência, que você faça isso hoje'”, relatou o prefeito.

Pedido de propina em ouro

Já o prefeito do município de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB) disse ao jornal “O Estado de S. Paulo” que o pastor Arilton Moura pediu ouro em troca do repasse de recursos.

“Ele disse que tinha que botar (…) Ver a nossa, a nossa demanda, né. Tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar. E na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era pra dar um tanto x”, afirmou o prefeito.

“Para mim, como a minha região é área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”, completou.

Braga contou ainda que o pedido foi feito em meio a outros prefeitos.

“Então, o negócio estava tão normal lá que ele não pediu segredo, ele falou no meio de todo mundo. Inclusive tinha outros prefeitos do Pará. Ele disse: ‘Olha, para esse daqui eu já mandei tantos milhões’. Os prefeitos ficavam todos calados, não diziam nem que sim, nem que não'”, continuou Braga.

Ele afirma que não aceitou o pedido de propina.

“E assim mesmo eu permaneci calado. Também não aceitei a proposta. Deixamos as demandas na mão dele e ele deu a conta pra gente. Os que transferissem os R$ 15 mil, ele ia protocolar”, concluiu.

Em nota divulgada nesta quinta-feira (24), o prefeito Gilberto Braga reforçou a denúncia.

“A respeito das notícias envolvendo seu nome em diversos veículos de comunicação, o prefeito de Luís Domingues, estado do Maranhão, Gilberto Braga, vem a público dizer que confirma o teor das declarações dadas ao jornalista Breno Pires, de ‘O Estadão'”, disse a nota.

“Em nenhum momento [o prefeito deu qualquer crédito às supostas propostas do pastor Arilton Moura, tendo-as como mais uma das inúmeras propostas de ‘vendedores’ de facilidades e/ou ‘fazedores’ de milagres que povoam Brasília e que ganham a vida assediando os mais diversos gestores públicos. Assim, por não acreditar na ‘inusitada’ conversa em ambiente público, não efetuou qualquer depósito na conta indicada pelo pastor ou qualquer outra”, completou o texto.

A reportagem não conseguiu contato com os pastores Gilmar e Arilton.

Também ao jornal “O Globo”, o prefeito José Manoel de Souza (PP), da cidade paulista de Boa Esperança do Sul, relatou pedido de propina de R$ 40 mil por parte de Arilton, para liberar verba para construção de escolas profissionalizantes no município. O prefeito disse que não aceitou.

Investigações

Na esteira das denúncias no MEC, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu autorização ao STF para instaurar um inquérito sobre a suspeita de que Ribeiro tenha favorecido pedidos de pastores na concessão de verbas públicas.

Segundo material divulgado pela PGR, se autorizado, o inquérito vai apurar “se pessoas sem vínculo com o Ministério da Educação atuavam para a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado à pasta”.

*Por Giuliana Morrone e Marcelo Parreira

Fonte: G1 Goiás

Foto: Reprodução/Facebook